Para os males da Polis, a política é sempre o remédio, mesmo
quando é também a doença.
Só se cura a política, seja qual for o
estágio da anomalia, com mais política.
A voz das ruas, em regra invocada como
sintoma de rejeição à política, nada mais é que o grito primal da política.
Mesmo os que fazem da antipolítica
estandarte servem-se da mais antiga e desonesta das formas de ação política: o
falso moralismo. Veem o mar revolto e lançam sua rede na expectativa não de
acalmá-lo, mas de fisgar alguns cardumes.
É preciso cuidado com os rufiões da
revolta alheia. A antipolítica, que criminaliza a política para comandá-la,
deságua sempre em ditadura -ou seja, nada mais do que a política em sua
manifestação mais odiosa e atrasada.
O Brasil já viveu algumas vezes essa
experiência; já cansou-se da dobradinha formada por populismo e autoritarismo,
cuja consequência é viciar e desmoralizar as instituições. O Brasil sabe que
por aí não há soluções, senão mais e mais problemas.
O que as ruas nos dizem é que é
necessário um basta à demagogia e à desonestidade, que resultam naquilo que os
protestos expressam: a má qualidade dos serviços públicos -nos transportes, na
saúde, na educação, na segurança, na justiça-, a corrupção dos agentes
públicos, os temores com a alta da inflação.
Não se pede revolução, mas decência.
Fala-se em insatisfação difusa.
Espremendo-se, porém, os slogans, chega-se ao vilão da história: o Estado -aí
compreendidos os três Poderes, que de fato merecem o que estão recebendo.
Afinal, falamos de um Congresso
dissociado da vontade popular, de líderes políticos contestados por seus
representados, de serviços públicos de má qualidade e de uma Justiça morosa.
O Legislativo fica sempre com a maior
carga, não por ser o pior, mas o mais transparente. E é o menos problemático,
já que, de quatro em quatro anos, renova sua composição nas urnas.
O Executivo renova apenas seu comando
-Presidência, governos estaduais e prefeituras-, mas não seu estamento
burocrático, em grande parte aparelhado pelos partidos políticos.
O Poder Judiciário, por sua vez,
renova-se muito lentamente, dada a vitaliciedade dos seus cargos.
Parece-me, portanto, evidente que
também este Poder tem de ouvir a voz das ruas. Não para ser reverente a gritos
contingentes, mas para se submeter a seu valor permanente, que é a observância
do Estado Democrático de Direito.
Enquanto os parlamentares e os chefes
de executivos têm seus nomes e fotos publicados diariamente nos jornais e são
apontados nas ruas, os membros do Judiciário são desconhecidos da população.
Não fosse a cobertura intensa do
julgamento do processo do mensalão, aliás, o próprio Supremo Tribunal Federal
(STF) saborearia o anonimato.
A impunidade é a expressão mais
perversa da injustiça. E não se trata de fenômeno recente. Registre-se que este
debate se mantém, há mais de um século, atualíssimo.
Mudou alguma coisa? As ruas sabem que não.
Mudou alguma coisa? As ruas sabem que não.
A política vai mal, o povo não se
sente representado pelos partidos -e isso precisa mudar. Mas, no Brasil de
hoje, nenhum Poder está em condições de puxar a orelha do outro.
Não podemos, no entanto, encarar a nossa história, a nossa formação, como um fatalismo. Podemos e devemos mudar essa escrita.
Não podemos, no entanto, encarar a nossa história, a nossa formação, como um fatalismo. Podemos e devemos mudar essa escrita.
O passado não existe para oprimir a
nossa inteligência, mas para nos instruir rumo ao futuro, para nos advertir
sobre os erros que já foram cometidos.
Todos navegam nas mesmas águas, turvas
e poluídas. O saneamento requer humildade, bom senso e ação conjunta, para que
o parágrafo único, do artigo 1º da Constituição -"todo o poder emana do
povo"- seja honrado.
Matéria publicada no Jornal Folha de S.
Paulo de 29/06/13, B-22- mercado – pela Senadora Kátia Abreu - ( PSD/ TO ) e
Presidente da CNA ( Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil ) .
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