segunda-feira, 16 de março de 2020

Evitar aglomerações é importante contra coronavírus, mas não existe número definido


Com a transmissão do coronavírus acontecendo de modo sustentado (ou seja, sem depender de casos importados) no Brasil, uma das principais formas de prevenção é evitar aglomerações. Não existe, entretanto, um número mágico de pessoas a partir do qual a situação se torna perigosa. A densidade de indivíduos, a proximidade entre eles, é a variável mais importante, dizem especialistas ouvidos pela Folha.
“Pelo que estamos vendo, cada pessoa que carrega o vírus é capaz de transmiti-lo para algo entre três e sete outras pessoas, um número mais alto do que se imaginava no começo. É muito importante tentar abaixar essa média, e o elemento que mais estimula a transmissão é o adensamento”, diz o virologista Paolo Zanotto, da USP.
“Dez pessoas a 30 cm uma da outra acabam sendo mais perigosas do que 9 bilhões com um quilômetro de distância entre cada uma delas”, compara.
Considerando o processo de transmissão do vírus, que ocorre, em geral, quando gotículas emitidas por espirros ou tosse atingem outra pessoa diretamente ou caem em superfícies que depois são tocadas por quem ainda não está doente, é possível falar numa distância máxima de três ou quatro metros entre quem tosse ou espirra e os demais presentes num ambiente fechado, afirma Flávio Codeço, biólogo matemático da FGV, no Rio de Janeiro.
“Em ambientes abertos, o vento pode levar as gotículas com o vírus para longe, mas em locais fechados ele acaba perdendo a capacidade de infectar se ninguém tocar as superfícies contaminadas e levar as mãos ao rosto”, explica.
“É claro que, quando você tem um número muito grande de pessoas circulando num espaço urbano, a chance de que alguma delas esteja carregando o vírus aumenta, o que faz crescer o risco, mas a proximidade é crucial.”
Outras circunstâncias ambientais que podem influenciar o risco da transmissão são menos decisivas. A maioria dos estudos versa sobre os vírus influenza, causadores da gripe, que são transmitidos de modo parecido.
Eles costumam afetar países do hemisfério Norte com mais severidade no inverno, mais frio e, com frequência, mais seco, mas não se pode considerar, por ora, que o calor e a umidade do ar mais elevada atuarão como uma proteção parcial no Brasil.
Em locais como Belém e Fortaleza, por exemplo, é comum a circulação dos vírus da gripe em épocas chuvosas e quentes. No Sudeste, embora o inverno seja a estação mais importante para o vírus, acaba havendo transmissão o ano inteiro em alguma medida, diz Codeço.
O mesmo vale para a radiação ultravioleta do Sol, que pode inutilizar as partículas do vírus, mas não o suficiente para minimizar a transmissão de forma significativa, segundo o biólogo.
Considerando esses fatores, a medida mais importante agora para o controle da pandemia seria implementar o chamado distanciamento social nos centros urbanos, deixando o máximo possível de pessoas em casa, afirma Zanotto.
O pesquisador, aliás, atendeu a reportagem pouco depois de enviar a seus alunos as atividades da disciplina de virologia – para serem feitas à distância, em casa. Ele já parou com as aulas presenciais.
“Ensinando essa disciplina, a última coisa que eu deveria fazer seria deixar 90 pessoas juntas numa sala durante quatro horas, certo? Ainda não estou tão louco assim.”

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