A moto é o veículo que mais mata no Brasil. Das 37,3 mil mortes que ocorreram no trânsito no país em 2016, as motocicletas foram responsáveis por 12,1 mil, o que representa 32%, de acordo com as informações mais recentes do Observatório Nacional de Segurança Viária.
Os automóveis vêm em segundo lugar, com 24% das vítimas. E em 21% dos casos de morte no trânsito não há registro oficial sobre o meio de locomoção da vítima.
Apesar de serem causadoras de tantas fatalidades, as motos são apenas 27% do total da frota de veículos do país (97 milhões), segundo dados de 2017 do Denatran (Departamento Nacional de Trânsito).
E mesmo sendo apenas um terço da frota, no ano passado, as motocicletas foram responsáveis por 74% de todas as indenizações do DPVAT (Seguro de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Via Terrestre).
“No mundo todo, independentemente de quem seja o condutor, o risco de acidente grave com motocicleta é cinco a dez vezes maior do que com um veículo de quatro rodas”, diz Horácio Augusto Figueira, especialista em transportes e segurança do trânsito.
Cenas de acidente com motociclistas fazem parte do cotidiano da cidade de São Paulo. Em agosto de 2017, o eletricista Francisco do Nascimento Júnior, 45, foi uma das vítimas.
“Era de manhã e chovia. Eu estava a uns 40 km por hora, quando, com o sinal verde, uma motorista, que parecia perdida, parou o carro na pista. Não consegui parar e, para não bater, desviei. A moto tombou em cima da minha perna e fraturei o pé”, conta.
Ele foi operado e teve de colocar quatro parafusos, uma placa e dois pinos. Para Nascimento, é preciso mais atenção dos condutores. “O ser humano perde a concentração no trânsito. Há muita distração, com o GPS e com o celular.”
O Brasil é o oitavo maior produtor mundial de motos, segundo a Abraciclo (associação brasileira dos fabricantes). Só na cidade de São Paulo, a frota é de 1,1 milhão de unidades, com 1,2 milhão de motociclistas habilitados.
A recessão dos últimos anos fez com que muitos condutores aderissem à motocicleta como meio de locomoção. “Houve crescimento da frota de motos pelo seu papel social e por sua flexibilidade”, afirma José Eduardo Gonçalves, diretor da Abraciclo.
Para o consultor de trânsito Sergio Ejzenberg, engenheiro e mestre em transportes pela USP, a população tende a escolher o que tem de opção.
“Se tivéssemos um sistema de transporte público eficiente, um planejamento urbano melhor, a realidade seria diferente. Em São Paulo, a moto virou necessidade. Os jovens foram empurrados para as motos, e o custo da destruição familiar é intangível.”
FALTA DE HABILITAÇÃO E IMPACIÊNCIA SÃO CAUSAS DE ACIDENTES
A falta de habilitação, a má conservação dos veículos e das vias, a impaciência de motoristas, condutores e pedestres e a não utilização de equipamentos de segurança, como capacetes, são apontadas pelos especialistas como as principais causas de acidentes.
“Para uma pilotagem segura, é preciso que o motociclista conheça os pontos cegos, faça a frenagem de maneira adequada, combinando freios dianteiro e traseiro, respeite as leis de trânsito e faça a manutenção preventiva de sua moto”, afirma Gonçalves.
Educação e fiscalização são as políticas apontadas como solução para refrear o número de acidentes com motociclistas. “A mudança de comportamento, tanto de motoristas como de motociclistas, com investimento em educação para o trânsito, tende a diminuir esses índices”, propõe Maxwell Vieira, diretor-presidente do Detran-SP.
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