Raros e delicados, os gêiseres são atração em diferentes partes do mundo. Entenda, a seguir, como são formados e qual é a dinâmica de seu funcionamento
Fenômenos raros e existentes em apenas algumas regiões da Terra, os gêiseres costumam protagonizar belos espetáculos naturais, graças às suas fontes jorrantes que lançam misturas de água, vapor e gases a dezenas de metros de altura, atraindo turistas e aguçando a curiosidade de muita gente mundo afora.
Conceitualmente, um gêiser é uma nascente termal que entra em erupção quase periodicamente, lançando uma coluna de água quente e vapor acima da superfície terrestre. Sua formação requer condições geológicas e geotérmicas especiais. Estima-se que existam cerca de mil gêiseres em todo o mundo. Praticamente metade deles fica no Parque Nacional de Yellowstone, que se estende pelos estados de Wyoming, Montana e Idaho, nos Estados Unidos.
A Península de Kamchatka, na Rússia, tem quase 200 gêiseres, enquanto na América do Sul a região geotermal mais famosa é a de Atacama, no Chile, onde apenas o Vale de El Tatio abriga cerca de 80 nascentes termais. Já a ilha Norte da Nova Zelândia e a região de Hveravellir, na Islândia, têm cerca de 15 gêiseres cada uma.
Para a formação de um gêiser é preciso haver uma camada superior que permita o movimento de águas subterrâneas, ou seja, um aquífero conectado via fraturas quase verticais a um substrato de rochas quentes (aquecidas pelo magma). As águas que penetram pelo conjunto vertical de fraturas sofrem superaquecimento e há formação de vapor, que fica confinado nas suas partes inferiores.
A atividade ou erupção de um gêiser ocorre quando a pressão de vapor confinado torna-se maior que a pressão da coluna d’água nas partes superiores das fraturas e, consequentemente, leva à expulsão de águas misturadas com vapor. Logo após essa expulsão, a pressão nas fraturas diminui, permitindo a entrada de águas frias e o novo confinamento de vapor proveniente dos substratos. O processo, então, se repete.
Pontualidade impressionante
Obviamente, o período de erupção de um gêiser depende principalmente de dois fatores: da altura da coluna de água nas fraturas e da taxa de aquecimento no seu interior. Em alguns casos, isso acontece com grau de pontualidade impressionante. O famoso Old Faithful, no Parque Yellowstone, por exemplo, lança jatos com 30 a 50 mil litros de água, que ultrapassam 50 metros de altura. As erupções ocorrem em intervalos que variam de 33 minutos a uma hora e meia e duram, em média, de dois a cinco minutos.
Na região de Rotorua, na Nova Zelândia, uma das principais atrações é o gêiser Pohutu. Ele entra em atividade cerca de 20 vezes por dia e lança colunas d´água a até 30 metros de altura. Suas erupções podem durar alguns minutos ou persistir por dias. A maior registrada até hoje durou mais de 250 dias, entre 2000 e 2001.
De forma geral, os gêiseres geotermais ocorrem em áreas de atividades vulcânicas. Contudo, segundo especialistas, é importante notar que a sua atividade também pode ser desencadeada pelos escapes de gases naturais, como o dióxido de carbono ou o metano.
Caxambu é atração
O Brasil se encontra numa região geológica praticamente isenta de atividades vulcânicas recentes. Contudo, em Minas Gerais, estado conhecido como “caixa d’água do Brasil”, há um gêiser. Batizado de Fonte Floriano de Lemos, está localizado no Parque das Águas de Caxambu, no Sul de Minas, região famosa por seu “Circuito das Águas”, onde ocorre um número significativo de fontes termais e minerais em cidades como São Lourenço, Cambuquira e Lambari.
O gêiser de Caxambu, que figura entre os principais atrativos turísticos da região, jorra água mineral sulfurosa em intervalos variáveis, junto com gás natural, ambos provenientes do interior da Terra. Por esse motivo, é considerado como pertencente a uma classe especial de gêiseres.
A pressão do gás é alta e o gêiser se manifesta pelo menos três vezes ao dia, formando uma coluna de água com temperatura média de 27ºC e alcance de até oito metros de altura. As águas desse gêiser são distribuídas através de uma construção cônica, que faz lembrar um grande cogumelo. Seus banhos medicinais são indicados para tratar infecções na pele, reumatismo e artrite.
Há, ainda, outras manifestações geotermais em Caldas Novas (GO), em Caldas de Jorro (SC), em Jaú (TO) e em General Carneiro (MT). Nesses locais, ocorrem aborbulhamentos de águas termais misturadas com emanações de gases. Nos leitos dessas fontes termais, é fácil observar manifestações semelhantes a minigêiseres.
A palavra gêiser tem origem islandesa e significa “fonte jorrante”. Segundo registros, no Oeste da Islândia ela teria sido usada pela primeira vez, com o sentido atual, em 1294 para descrever um estranho buraco que ‘cuspia’ fortes jatos de água quente e vapor de dentro da Terra. Desde então, o uso desse termo tornou-se universal.
Recentemente, a agência espacial norte-americana (Nasa) encontrou evidências da presença de atividades semelhantes à de gêiseres em Europa, uma das 67 luas do planeta Júpiter. As imagens, que indicam gêiseres ejetando vapor de água, foram captadas pelo telescópio espacial Hubble. Com essa descoberta, tornou-se possível monitorar as atividades termais de satélites que atravessam várias camadas de gelo. Segundo alguns pesquisadores planetólogos, a Europa poderia ser considerada lugar com maior probabilidade de abrigar vida sustentada por gêiseres em nosso Sistema Solar.
Como funcionam
As camadas de subsolo em regiões vulcânicas têm o primeiro ingrediente necessário para a ocorrência de um gêiser: camadas de magma incandescente. Situadas a poucos quilômetros da superfície, essas camadas funcionam como uma chama de fogão, aquecendo a água da chuva ou de neve derretida que penetra no subsolo.
Em reservatórios nas rochas semipermeáveis, o líquido atinge temperaturas superiores a 200ºC. À medida que esquenta, este ganha pressão, aumenta de volume e empurra a coluna d’água para cima. É o mesmo processo que ocorre nas estâncias termais, mas com uma diferença importante: nos gêiseres, as rachaduras que levam a água à superfície são muito mais largas.
Assim, quando a pressão é forte o suficiente para expulsar a mistura de líquido e vapor dos reservatórios, o jato d´água sai de uma vez só, na forma de uma erupção. Horas depois de se esvaziarem com esses jatos escaldantes, os depósitos subterrâneos voltam a se encher de água fria e o show se repete.
Além de raros, os gêiseres também são frágeis. Fenômenos geológicos corriqueiros, como tremores de baixa intensidade, podem pôr fim aos jorros d’água. Foi o que ocorreu com a lendária fonte de Waimangu, na Nova Zelândia. Nascido de uma erupção vulcânica em 1888, esse gêiser chegou a disparar jorros de 480 metros – altura superior à das Torres Petronas, na Malásia, que são os prédios mais altos do mundo, com 452 metros. No entanto, em 1904, um deslizamento de terra alterou o fluxo da água subterrânea e acabou com o espetáculo.
Os intervalos entre as erupções dependem de uma série de variáveis, tais como: fluxo de calor, quantidade e velocidade das correntes de água subterrâneas, bem como a natureza do conduíte principal do gêiser e as conexões (semelhantes a encanamentos) existentes debaixo da terra.
Reportagem de: Luciana Morais
Fonte: http://www.revistaecologico.com.br/materia.php?id=108&secao=1897&mat=2188
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