A imagem divulgada em rede nacional da mulher linha dura, com o dedo em riste apontado para sindicalistas em greve e representantes do Metrô de São Paulo, durante audiência de conciliação no Tribunal Regional do Trabalho (TRT), nesta quinta-feira (5), fez com que a desembargadora Rilma Hermetério fosse rapidamente reconhecida pela família, que mora em Minas Gerais. “A minha mãe disse para mim ‘quando eu vi o seu dedinho levantado, eu falei: é minha filha’”, comenta em entrevista ao G1.
“Eu não me considero linha dura, e quem me conhece ao longo da magistratura, que estou desde 1981, não tem esse posicionamento. Talvez a situação, por que foram dois episódios, tenha levado as pessoas a formarem essa opinião ao meu respeito. Mas eu creio que se eles convivessem comigo eles sofreriam uma decepção, ou então diriam que não é bem aquilo que estavam pensando", acredita.Responsável também por intermediar as negociações à época da paralisação dos rodoviários, no final de maio, ela garante, porém, que é mais "brincalhona" do que "enérgica".
Mineira de Caxambu, ela elevou o tom nas últimas audiências, mas revela que já foi chamada de forma carinhosa por cativar uma das partes em outra mediação. "Chegou ao ponto, em uma situação, depois terminada uma audiência, a trabalhadora, que era uma empregada doméstica, me chamar de tia. Ela sentiu-se íntima de mim e disse ‘tia, obrigada pelo acordo que foi feito’.”
Recorda-se também de ter tido traquejo para contornar outra forma de tratamento usada durante uma sessão. “Creio que o advogado instruiu tanto a testemunha para não me chamar de você, ou de tia, talvez, e deve ter dito para chamar de excelência. Só que não hora ela esqueceu e me chamou de alteza. E eu disse: 'nem tanto, por favor”, diverte-se ao lembrar.
Rilma afirma que seus colegas de ofício têm uma avaliação quase contraditória com o que foi registrado pela imprensa nos últimos dias. "Todos os meus jurisdicionados acham até que eu conduzo as audiências com uma informalidade bastante grande a ponto de contar fatos da minha vida, trocar gracejos em determinadas situações. Isso é normal, e é o meu jeito de ser.”
E garante quem a reconhece nas ruas aprova as suas últimas decisões. “Eu recebi manifestação favorável. Muitas pessoas, no caso quando me manifestei no dissidio dos rodoviários, falaram que era justamente o que elas gostariam de ver para os grevistas."
Espelho
Formada em direito pela USP, e mestre em Disciplinas do Trabalho, Sindicais e da Segurança Social pela Universitá Degli Studi di Roma "TOR VERGATA", na Itália, Rilma é vice-presidente judicial do TRT-2 da capital paulista desde 2012. Faz parte do primeiro quadro diretivo composto somente por mulheres, e é candidata à presidência do Tribunal, que tem eleição marcada para agosto deste ano.
As recentes imagens podem até suscitar uma comparação com outra figura marcante do judiciário brasileiro. A desembargadora, porém, vê apenas óbvias semelhanças entre ela e o presidente do Supremo Tribunal Federal, o ministro Joaquim Barbosa.
“A única coisa que posso considerar que nós temos igual é que pertencemos ao poder judiciário. Na realidade, cada pessoa exerce a magistratura pela sua bagagem jurídica, bagagem de vida. E a minha trajetória, pode ser que em alguns pontos pode ser que seja coincidente com o ministro Joaquim, a quem todos nos admiramos. Mas não que o eu o tenha como paradigma.”
Os familiares a comparam com o avô, operário que lutou por causas trabalhistas no século passado. Entretanto, a magistrada cita a mãe como sua referência pessoal e profissional. “Tenho minha mãe como meu paradigma porque ela criou três filhos, todos formados em direito, e ela ficou viúva com 37 anos. Com um filho de 17, uma filha de 15 e outra de 12, numa época em que a mulher não exercia um papel tão relevante na sociedade.”
Sandália de prata
Solteira, tia e tia-avó, ela se divide entre a família, o poder judiciário, viagens – tem fascínio pela Itália, onde já morou e domina o idioma – e e aulas de dança de salão, modalidade que frequenta acompanhada do primo, há cinco anos.
“Eu adoro dançar gafieira, gosto de forró também. Faço em dupla, meu primo também faz comigo. Meu professor promove saída com todos os alunos algumas vezes. E quando há essa possibilidade, eu vou. Na semana que vem, se Deus quiser, e não tiver greve, eu vou sair na sexta-feira. Vou sair para dançar bolero", planeja.
O gosto musical é tão surpreendente quanto a opção de lazer. É fã do conterrâneo Milton Nascimento – “As músicas dele são a trilha sonora da minha vida. Lembro precisamente o que estava fazendo”, comenta. Mas escuta de Lupicínio Rodrigues a Thiaguinho. Esse último, por uma razão pontual. “Ele tem uma energia muito boa.”
Passageira
Declaradamente apaixonada por São Paulo, onde chegou para cursar a faculdade de direito, a desembargadora revela que conheceu muito da cidade por usar transporte público. “Aos sábados, quando tenho aula de dança de salão, eu vou de ônibus. Acho muito mais interessante verificar as coisas, até a visão da paisagem urbana, de ônibus do que de carro.”
Diz ser privilegiada por não enfrentar ônibus lotado, mas não economiza nas críticas ao serviço e às mudanças propostas pela atual gestão municipal. “Como eu moro em um bairro que não é longe, eu não sinto tanto o impacto de condução cheia. Com relação à demora, sim. Eles tiraram varias linhas do meu bairro e isso causou um transtorno muito grande. Eu tenho que já prever o horário que ele passa para marcar meu compromisso, senão corro o risco de ficar muito tempo esperando no ponto de ônibus. O meu bairro, existe uma determinada parte dele, que é muito mal servido por ônibus", reclama.
Fonte: G1